domingo, 27 de maio de 2012

Seca arrasa atividades produtivas no semiárido potiguar


Assim como a morte está para a vida, a seca está para o semiárido. A certeza de que ela vai atacar não é novidade. O imperador Dom Pedro II chegou a prometer a última jóia da coroa para salvar o sertanejo em 1877, em uma das estiagens que matou milhares no sertão. Com 147 de seus 167 municípios dentro do chamado "Polígono das Secas", o Rio Grande do Norte acusa o golpe economicamente, em atividades produtivas diretamente ligadas às precipitações. Agricultura, pecuária, apicultura e cajucultura formam um pacote comprometido pela falta d'água. Entretanto, é no aspecto social que o impacto surge mais devastador. A convivência ainda desequilibrada com a seca ceifa mais do que emprego e renda. Mexe com as perspectivas de vida no campo.
 (Eduardo Maia/DN/D.A Press)

No RN, o governo calcula que 500 mil pessoas foram afetadas somente nas zonas rurais. Os efeitos se disseminam em cadeia econômica. Sem a chuva, a agricultura de sequeiro - do feijão, milho e mandio- ficou praticamente inviabilizada. A falta de pasto comprometeu a alimentação dos animais, que tombam de fome e desidratação nos currais. As mortes e o rebanho magro minam a produção de leite, refletindo na oferta do produto e gerando desemprego nas fábricas de laticínios. O retrato árido não deixa espaço para a flora, o que extermina a produtividade dos enxames na geração de mel. Em grande parte plantada em sequeiro, a cajucultura potiguar prevê uma redução forte na safra. O quadro preocupa, e deve piorar com o prolongamento da estiagem.

Apesar da abrangência econômica da seca, os dados frios do Produto Interno Bruto (PIB) não apontam perdas tão significativas. A agropecuária representou em 2009, ano do último PIB divulgado, 5,1% do valor adicionado bruto do RN, algo em torno de R$ 1,2 bilhão. Mesmo considerando atividades vinculadas como a produção de laticínios, queijarias, indústria da castanha, entre outros, de acordo com o chefe estadual do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Aldemir Freire, as perdas são pequenas. A agricultura de sequeiro, principal impactada pela estiagem, engloba a menor parcela da produção, que tem mais força nas culturas irrigadas do melão, banana ou melancia.

No semiárido potiguar as frustrações da seca estão nas palavras de pessoas que desenvolvem suas atividades na zona rural, seja para gerar renda, ou simplesmente para sobreviver. A realidade também aparece nos retratos espalhados pelo interior do Rio Grande do Norte. Da imagem do casal de idosos José Amílton Borges e Francisca Fernandes da Cruz puxando uma carroça em busca de água às salas normalmente cheias e agora esvaziadas de produtos lácteos da Cooperativa de Eletrificação e Desenvolvimento Rural do Seridó (Cercel).

No mesmo sertão também se encontram palavras e imagens carregadas de esperança daqueles que se preparam minimamente para conviver com a seca sem precisar passar por maus bocados. Afinal, os próprios sertanejos, como o produtor de leite Francisco Alves Sobrinho, sabem: "A seca não tem combate. Na verdade se convive com ela". 

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