sábado, 30 de outubro de 2010

Tropeços de campanha perseguiram Dilma e Serra

BRASÍLIA (Reuters) - Se perfeição fosse regra básica para vencer eleição os candidatos estariam perdidos. Tropeços em um terreno delicado como a disputa presidencial podem ser fatais e perseguiram tanto Dilma Rousseff (PT) quanto José Serra (PSDB) na corrida para o Planalto.

É difícil medir o alcance de um desvio, mas alguns chegam a segurar um passo vitorioso. Do lado dilmista, um erro flagrante colaborou para impedir a candidata de vencer no primeiro turno, como apontava parcela das pesquisas.

O QG da candidata não reagiu a tempo à forte campanha via Internet que visava à desconstrução da imagem de Dilma, no que foi considerada por especialistas a campanha presidencial mais negativa dos últimos anos.

Questões morais, como a legalização do aborto e do casamento entre homossexuais foram exploradas à exaustão em emails apócrifos enviados a eleitores com a afirmativa de que Dilma pretendia trilhar este caminho. Colocadas na sociedade, as questões acenderam o alerta da Igreja Católica e de lideranças evangélicas.

"O PT não estava preparado para esta guerra na Internet e não sabia responder. Faltou preparo para a guerrilha", disse à Reuters o cientista político Marcus Figueiredo, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ.

Do lado tucano, Serra enfrentou desgaste na escolha do vice da chapa. Para começar, deixou o anúncio do companheiro de chapa para depois da convenção tucana que homologou seu nome.

Em um primeiro movimento, deixou vazar que seria o senador tucano Alvaro Dias sua primeira opção. Mas devido à forte reação do DEM, cedeu ao aliado ao escolher um deputado jovem e pouco conhecido, Indio da Costa, para surpresa do cenário político.

Para o professor Marcus Figueiredo, foi uma tentativa infrutífera de Serra de se afastar do DEM.

Veja a seguir os principais erros e acertos dos dois candidatos.

DILMA ROUSSEFF

Acertos

* Colar sua imagem na do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a forma encontrada para se tornar conhecida e mostrar ao eleitor que representava a continuidade.

Com popularidade de mais de 80 por cento, Lula cumpriu este papel e conseguiu transferir para a candidata uma alta porcentagem de sua aprovação. Segundo analistas, a vantagem deste procedimento foi bem maior do que a insinuação de que Dilma não teria vida própria, ideias próprias. Ou, como acusou Serra, que ela governaria "na garupa de Lula".

* Começou a campanha com apoio de mais partidos, o que lhe garantiu mais tempo na campanha de rádio e TV. Foram dez legendas no total, contra seis de Serra.

Erros

* O vai e volta de opiniões sobre a descriminalização do aborto: Dilma declarou ser favorável no passado e voltou atrás na campanha. O uso de suas afirmações contagiou religiosos e se tornou o centro de debate eleitoral. Serra explorou a fundo o caso, pelo ângulo da falta de palavra.

Pressionada, a candidata assumiu em carta a evangélicos que não apoiará projetos que pretendam mudar a questão da interrupção da gravidez. Ela continua defendendo que o tema é questão de saúde pública.

* Ter, num primeiro momento, defendido a então ministra-chefe da Casa Civil Erenice Guerra. Depois adotou outro discurso, afirmando que saída da ex-braço direito acusada de tráfico de influência era importante para investigações.

* Não ter considerado como concorrente a candidatura de Marina Silva (PV), que conseguiu, no resultado do primeiro turno, quebrar a tese do plebiscito entre Dilma e Serra como pretendia o presidente Lula.

* Também não ajudaram as críticas agressivas do presidente Lula aos meios de comunicação a duas semanas do primeiro turno, que soaram como desejo de controlar a mídia.

JOSÉ SERRA

Acertos

* Marqueteiros da campanha tucana souberam explorar as contradições de Dilma e os escândalos e polêmicas envolvendo seu nome, com a questão do aborto e o caso Erenice.

* Propostas de elevar o salário mínimo de 510 reais para 600 reais, reajuste de 10 por cento a aposentados e 13o salário aos beneficiários do Bolsa Família foram promessas de última hora bem-vindas ao eleitor.

* Nos debates de TV, usou sua experiência política de 40 anos e em geral se saiu bem. É ponta firme e nem no primeiro confronto do segundo turno, quando Dilma foi mais agressiva e desabafou, perdeu o compasso.

Erros

* Demora em se declarar candidato, com evasivas diárias à imprensa.

* Ter dito que não conhecia Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, ex-diretor da Dersa paulista que teria sumido com 4 milhões de reais de caixa dois que teria arrecadado para a campanha tucana. Depois Serra veio a público defender o ex-auxiliar.

* Ter usado imagem do presidente Lula na campanha de TV acabou confundindo o eleitor. Uma das principais críticas dos cientistas políticos a Serra nesta eleição é sua tentativa de propor a continuação do governo Lula, sem deixar claro que é de oposição, que é anti-Lula, o que só surgiu nos últimos dias do segundo turno.

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