sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Estudo vê risco de epidemia de HIV resistente a medicamentos

O aumento da circulação de variantes do HIV resistentes ao tratamento com antirretrovirais nos EUA pode provocar uma epidemia desse tipo de "supervírus" com início nos países desenvolvidos.
O alerta é de um estudo publicado na edição desta sexta-feira (15) na revista "Science", que analisou a dinâmica de transmissão do vírus em San Francisco, na Califórnia.
Nos últimos 20 anos, a presença do vírus resistente cresceu de forma significativa na cidade, assim como na maioria dos países ricos, onde o tratamento com antirretrovirais é comum.
Como os soropositivos podem transmiti-lo para mais de uma pessoa, os pesquisadores afirmam que a ameaça de epidemia nesses países é real.

Simulação

Para mapear a evolução do HIV em São Francisco, os cientistas criaram um modelo matemático com os dados das infecções nas últimas duas décadas.
A simulação considerou a transmissão dos três tipos de HIV resistentes aos principais antirretrovirais do mercado. A partir dessas informações identificaram os fatores do tratamento que levaram à resistência aos medicamentos.

O modelo mostrou que muitos dos HIV resistentes, que têm evoluído nos últimos dez anos, são transmitidos de uma pessoa para outra mais facilmente do que se acreditava. Essa nova dinâmica, dizem os cientistas, tem potencial para provocar uma nova onda de resistência aos medicamentos.
Embora os remédios tenham conseguido manter a taxa de transmissão do HIV resistente abaixo de 15% do que seria esperado, cerca de 60% dos vírus desse tipo têm potencial para causar epidemias autossustentáveis caso saiam do controle.

"Este estudo não é só sobre San Francisco. É basicamente sobre muitas outras comunidades de países ricos e tem implicações significativas para a saúde global", afirmou Sally Blower, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, líder da pesquisa em comunicado à imprensa.
Segundo ela, o modelo matemático aplicado à cidade pode ser transposto para "qualquer outro lugar", desde que feitas adaptações necessárias.

Migração viral

Uma das maiores preocupações dos cientistas agora é a disseminação do vírus resistente aos tratamentos nos países pobres.
A chegada desse tipo HIV a locais onde o acesso aos medicamentos é difícil e as políticas de saúde pública são limitadas pode anular os recentes avanços conquistados em áreas mais atingidas pelo HIV, como a África do Sul.

Por enquanto, não há dados sobre a presença do vírus resistente nos países mais pobres. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), o principal empecilho é a falta de informações confiáveis sobre saúde pública nessas nações.
A insistência da entidade em tratar de maneira semelhante todos os infectados pelo HIV foi alvo de críticas de Blower.

"O mais inquietante é que nosso modelo mostra que a estratégia atual para a eliminação do HIV proposta pela OMS inadvertidamente pode piorar as coisas e aumentar significativamente os níveis de resistência aos medicamentos em muitos países africanos", afirmou a pesquisadora americana.
De acordo com os cientistas, o modelo aplicado na pesquisa pode ser usado para o estudo da dinâmica de outras doenças resistentes a tratamentos.

Da redação do DIARIODENATAL.COM.BR com Folha Online



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